Astucia Primaria
"Expressar-se por meio de palavras é um desafio. Mas não correspondendo à altura do desafio. Saem primas palavras."
sábado, 9 de junho de 2012
A princesa e os príncipes
quinta-feira, 22 de março de 2012
O Poema [e o Tempo]
segunda-feira, 5 de março de 2012
Um olhar (também) pode mover o mundo!
"O correr da vida embrulha tudo,
a vida é assim: esquenta e esfria,
aperta e daí afrouxa, sossega e
depois desinquieta. O que ela
quer da gente é coragem."
(Guimarães Rosa)
Não direi que falta coragem pra escrever, falta mesmo é tempo e palavras em mente pra expressar os sentimentos! Mas pra tudo dá-se um jeito, e confesso que se fosse contar tudo o que vivemos nessas últimas semanas, ia escrever muito. Resolvo fazer um post contando aquilo que de mais nítido está em minha memória e em meu coração :)
Comecemos pelo meu aniversário! 30 de dezembro! É sempre uma alegria estar junto aos meus verdadeiros amigos no litoral. Todos os anos, nos reunimos e além da comemoração, é o dia de contar as novidades, compartilhar as angústias e ideias que vislumbram o ano que virá! No dia seguinte, reuni-se a família, pula-se as 7 ondas, fazemos os pedidos, mais alegria contagia nossos corações!
O ano novo chega! Só que dessa vez, algo diferente e muito bom acontece. Falta exatamente uma semana para eu e a minha queridíssima prima Júlia irmos para a África do Sul. Uma viagem inesquecível...
Foi uma experiência incrível. Não só por ter a oportunidade de conhecer uma cultura e um povo diferente (o que já foi maravilhoso!), mas pela convivência em grupo, e, principalmente, a convivência com a Júlia. Uma menina surpreendente! Ao mesmo tempo que eu me sentia responsável por ela, sentia sua super proteção em relação a mim, mesmo que de uma maneira mais contida (talvez eu seja sentimental demais!)rs.
Minha relação com a Júlia, minha prima-irmã-melhor amiga, lembra-me alguns versos do Carlos Drummond de Andrade que dizem: "Amor é dado de graça,/ é semeado no vento, / na cachoeira, no eclipse. / Amor foge a dicionários / e a regulamentos vários." Eu a amo de uma maneira que não seria capaz de descrever, nunca! Nos dias que vivemos juntas por lá, eu tinha ela, e ela tinha a mim. E nos momentos que batia a saudade, a insegurança, a ansiedade, era ela que me confortava e me ajudava a encontrar a plenitude novamente. Na verdade acho que eu ainda não sou capaz de perceber que a Júlia vem crescendo, pois, aos meus olhos, ela será sempre a minha priminha :)
Vivemos momentos de diversão, de medo, de ansiedade... E como nunca se distingue o bem vivido do não vivido, vivemos! E quando percebemos os dias passarem, observamos melhor o mundo, as pessoas, os sentimentos... As coisas mostram um valor diferente. Aprendemos a dar o valor que realmente todas essas coisas tem!
Bom, eu poderia ficar aqui descrevendo vários passeios que fizemos, vários pensamentos que nortearam as nossas cabeças durante todos esses dias, mas o essencial é invisível aos olhos, visível ao coração! Além da experiência sem tamanho que passamos, sinto que crescemos como seres humanos que somos. Imagina a sensação de estar num lugar repleto de crianças que te olham com um brilho no olhar que só você foi capaz de ver e sentir...decifrar a mensagem de carinho que elas transmitiam mesmo sem proferir uma palavra! São coisas impagáveis que a vida nos proporciona.
As conversas que nós tivemos antes de dormir, ou mesmo no final das aulas, foram todas construtivas e humanizadoras. Sinto muito orgulho de poder viver, conviver e crescer ao lado de pessoas tão especiais assim! Esse primeiro post do ano é dedicado a Júlia! Alguém que se reinventa a cada momento e é capaz de nos dar lições de vida com o seu jeito singelo de ser!
quinta-feira, 15 de dezembro de 2011
Rumo ao 3º ano!
Bem, um novo ano começa, ou recomeça... Quantas coisas acontecerão no próximo ano? Vivamos pra saber! Surge uma inquietude... Talvez seja necessário fazer planos? Será que não conseguimos “viver um dia de cada vez”? Será que as pessoas estão se contradizendo a todo instante? Acho que as pessoas não possuem a necessidade de saber quanto tempo vão durar, mas do que se esperar do tempo que virá. Mas então, podemos esperar? O mundo de nada sabe das questões individuais... Mas nós, humanos, nós sabemos!
PS: Acabo de notar que esse título serve pra mim e pra Júlia! Mais uma vez, primas em sintonia!rs
sábado, 12 de novembro de 2011
Tem alguma coisa que você queria para o mundo?
E se estão lutando por uma causa que é muito maior, que chega a toda a sociedade, não venham dizer que tinham que fazer algo realmente e não ”achar que estão fazendo revolução lá dentro” porque que precisamos mudar o mundo pelo que está ao nosso redor, não? Pelo nosso mundo, no micro, no pouco e assim vamos começar a fazer a diferença. Se cada um mudar o que acha errado dentro do seu espaço e dentro de si mesmo, teríamos uma sociedade melhor.
sábado, 29 de outubro de 2011
Vaivém
“Nunca se distingue bem o vivido do não vivido”
Sophia de Mello Breyner Andresen
CIDADE
Cidade, rumor e vaivém sem paz das ruas,
Ó vida suja, hostil, inutilmente gasta,
Saber que existe o mar e as praias nuas,
Montanhas sem nome e planícies mais vastas
Que o mais vasto desejo,
E eu estou em ti fechada e apenas vejo
Os muros e as paredes, e não vejo
Nem o crescer do mar, nem o mudar das luas.
Saber que tomas em ti a minha vida
E que arrastas pela sombra das paredes
A minha alma que fora prometida
Às ondas brancas e às florestas verdes.
Este é um poema de mais uma poetisa portuguesa, Sophia de Mello Breyner Andresen. Escolhi fazer a análise do poema Cidade por ser um dos meus poemas preferidos da autora. Antes de ater-me à análise em si, é válido esclarecer que a poesia para Sophia tem três sentidos: a Poesia, com P maiúsculo, é uma necessidade, é algo essencial para viver. A autora ainda escreve em seu ensaio Poesia e realidade: que “a Poesia existe em si – independente do homem.” (...) “a Poesia é a própria existência das coisas em si, como realidade inteira, independente daquele que a conhece”. A poesia, com p minúsculo, seria então “a relação do homem com a Poesia”. Por fim, o terceiro sentido da palavra poesia é poema, a linguagem da poesia. “O poeta vê a Poesia, vive a poesia e faz o poema.”
Como pude observar, no poema Cidade encontram-se muitos elementos referentes à natureza. Como mar, praia, montanhas, florestas, entre outros. A partir dessa observação, já se percebe um marco da poesia de Sophia. No prefácio de uma de suas obras já se encontra uma citação da autora: “Nasci (...) entre a cidade e o mar”. Em especifico neste poema, o titulo já diz qual o objeto (o tema) tratado no mesmo: a cidade. Através da observação de Sophia ela descreve o essencial modo de ser das coisas. Segundo Eduardo Prado Coelho, há uma “exaltação afirmativa do real”. Como já atentei mais acima quanto aos elementos da natureza, devo dar atenção em especial para o “mar”, local bastante privilegiado na poesia de Sophia. A poetisaa vê o mar como um modelo de perfeição.
Em contrapartida percebe-se que a cidade é representada no poema como um grande inimigo. Idéia explicitada nos dois primeiros versos: “Cidade, rumor e vaivém sem paz das ruas, / Ó vida suja, hostil, inutilmente gasta”. Coelho diz em Sophia, a lírica e a lógica que a autora tem dois grandes inimigos: a cidade e o tempo. A cidade é representada como um polvo na obra de Andresen. E posso até arriscar o motivo. Imaginando um polvo, a primeira coisa que me vem à cabeça é aquele molusco com oito tentáculos que fazem movimentos incessantemente. Seria então algo que não tem paz, quietude, seria uma coisa em movimento constante, trazendo assim, bagunça, rumor, caos.
Nos versos seguintes: “Saber que existe o mar e as praias nuas,” / “Montanhas sem nome e planícies mais vastas”. Percebe-se um tom de inconformismo, que é confirmado nos versos seguintes: “E eu estou em ti fechada e apenas vejo” / “Os muros e as paredes, e não vejo” / “Nem o crescer do mar, nem o mudar das luas”. Sophia então não se conforma em viver presa à cidade, ao caos, e ser privada de ver o mar, enxergar um horizonte maior e a mudança de fases da lua.
Na última estrofe: “Saber que tomas em ti a minha vida” / “E que arrastas pela sombra das paredes” / “A minha alma que fora prometida” / “Às ondas brancas e às florestas verdes.”, todo o descontentamento com a cidade vem à tona novamente. Nestes versos Sophia diz que a cidade é capaz de “prendê-la”, tornar sua vida obscura. Podemos vê-la até como o exílio. Neste caso, pode-se compreender o exílio no contexto deste poema como uma condição humana imposta aos homens. E até comprometer sua alma, prometida às ondas e às florestas, ou seja, as coisas boas, belas. Aqui se encontra presente mais uma vez o elemento mar (ondas). E percebe-se que todas as vezes
Partindo para uma análise estrutural, Rosa Maria Martelo fala sobre a necessidade de Sophia em transitar da palavra para a sílaba em Sophia e o fio de sílabas. Para ela
“Sophia sempre entendeu que a sua poesia não se faria nem com idéias nem com palavras, mas com sílabas, e que o seu conceito de justeza da linguagem poética radica precisamente nessa perspectiva.”
Quanto ao ritmo do poema, percebe-se a predominância do ritmo binário ascendente: um acento fraco (breve) seguido de um acento forte (longo). Nos versos de Cidade as rimas são marcadas de tal forma: a/b/a/b/c/c/c/a/d/e/d/e. Pude notar ainda que as consoantes [s] e [m] são bastante marcadas no poema. Rosa Maria nos chama atenção quanto a isso, na questão da oralidade na poesia de Sophia. Pois, quando criança, Andresen
“pensava que os poemas não eram escritos por ninguém, que existiam em si mesmos, por si mesmos, que eram como que um elemento do natural, que estavam suspensos, imanentes. E que bastaria estar muito quieta, calada e atenta para os ouvir”.
Neste sentido, o leitor é convidado a ouvir e sentir o fluir das palavras enquanto desfruta do poema.
Já que se trata da análise de apenas um poema, muitos aspectos da poesia de Sophia ficaram de fora do texto. No entanto, o esplendor de sua obra ainda pode ser bastante explorado. Que esta humilde análise tenha trazido pelo menos um pouco de Sophia para dentro de cada leitor, e que desperte o interesse de novos espectadores por essa poetisa sui generis. Termino minha análise com alguns versos de um grande amigo de Sophia, o poeta Eugénio de Andrade, os quais dizem: “Sempre que penso nela vejo o mar, muito nítido e azul ao fundo” .